quinta-feira, 30 de agosto de 2007

AMAR...Carlos Drummond de Andrade

Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
amar e esquecer,
amar e malamar,
amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?

Que pode, pergunto, o ser amoroso,

sozinho, em rotação universal, senão
rodar também, e amar?
amar o que o mar traz à praia,
e o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?

Amar solenemente as palmas do deserto,

o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o áspero,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e uma ave de rapina.

Este o nosso destino: amor sem conta,

distribuído pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.

Amar a nossa falta mesma de amor, e na secura nossa

amar a água implícita, e o beijo tácito, e a sede infinita.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Requiem para um Sonho


A história é sobre quatro viciados, que no início do filme estão cheios de sonhos e com boas perspectivas de realizá-los, afinal são jovens (três deles), cheios de idéias e energia. Porém, com o vício, acabam ferrando tudo. Harry (Jared Leto), Tyrone (Marlon Wayans) e Marion (Jennifer Connelly) formam um grupinho de amigos que se envolvem cegamente nas drogas. Enquanto isso, Sara (Ellen Burstyn) é viciada em televisão e, quando recebe uma possível proposta de participar de um programa de auditório, resolve emagrecer com pílulas de anfetamina, que acabam perdendo o efeito com o tempo, e ela, viciada, começa a exagerar na dose para tentar recuperar a eficiência das pílulas.

O filme é isso que você vê eventualmente sendo demonstrado na televisão em campanhas contra as drogas: mostra os sonhos, depois o processo de ruína, e o fim trágico de seus usuários. E, acreditem, Réquiem Para um Sonho não é novela das oito, aqui dificilmente o final será feliz, para quem quer que seja. E esse é justamente um dos pontos fortes do filme: ele não tenta dar nenhuma lição de moral, não ensinar nada, apenas joga na tela, da forma mais cruel possível, os efeitos que as drogas podem causar sobre seus dependentes. Não há nenhum médico ou parente para confortar os personagens, só desespero e dor. Então, o espectador é quem decide se o que viu é o suficiente para alertá-lo ou não.

Requiem for a Dream, 2000 - Trilha Sonora

1 - Summer Overture
2 - Party
3 - Coney Island Dreaming
4 - Chocolate Charms
5 - Ghosts of Things to Come
6 - Dreams
7 - Tense
8 - Dr. Pill
9 - High on Life
10 - Ghosts
11 - Crimin' and Dealin
12 - Hope Overture
13 - Tense
14 - Bialy and Lox Conga (por The Moonrats)
15 - Cleaning Apartment
16 - Ghosts-Falling
17 - Arnold
18 - Marion Barfs
19 - Supermarket Sweep
20 - Bugs Got a Devilish Grin Conga
21 - Winter Overture
22 - Southern Hospitality
23 - Fear
24 - Full Tense
25 - The Beginning of the End
26 - Ghosts of a Future Lost
27 - Meltdown
28 - Lux Aeterna
29 - Coney Island Low

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Ten - Pearl Jam

Ten foi o primeiro álbum da banda de grunge norte-americana Pearl Jam, tendo sido lançado em 27 de Agosto de 1991, um mês antes de outro clássico do Grunge, o Nevermind dos Nirvana.

É considerado por muitos o melhor álbum da banda e um dos melhores do movimento grunge.

Politicamente correto, ficou entre os dez melhores e vendeu mais de nove milhões de cópias. A música é robusta e lírica, com energia pura, ótima musicalidade e composições com características de blues rock e punk poético.
  1. "Once" - 3:50
  2. "Even Flow" - 4:53
  3. "Alive" - 5:41
  4. "Why Go" - 3:19
  5. "Black" - 5:43
  6. "Jeremy" - 5:18
  7. "Oceans" - 2:42
  8. "Porch" - 3:30
  9. "Garden" - 4:59
  10. "Deep" - 4:18
  11. "Release" - 9:05 (a música tem 4:59 e é listada como 6:30, a faixa escondida "Master/Slave" começa aos 6:15)
Músicos

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

O ILUSIONISTA

Edward Norton interpreta Eisenheim, um pobre adolescente que, após ser cruelmente separado de um romance impossível com uma condessa, viaja pelo mundo com o objetivo de desvendar os grandes segredos da mágica. O roteiro brinca com o espectador ao exibir seus truques como uma mistura de realidade (através de apetrechos engenhosos) e fantasia (alguns truques nunca são explicados), e por isso ele pode afastar os céticos. O Ilusionista pede por credulidade, ou pelo menos por apreço à fantasia, para não ser mal interpretado. Apesar de explicar vários truques, muitos pontos do filme ficam simplesmente em aberto, como o final, que é um tanto quanto livre em interpretações.

Mas há mais do que uma seqüência de truques no filme. Temos, também, uma boa história de amor e um bom suspense. O clima macabro do teatro em que Eisenheim se apresenta ao público é no mínimo interessante. Infelizmente o par amoroso de Edward Norton é Jessica Biel, uma atriz muito bonita, mas que aqui é o ponto fraco de um bom elenco. A atriz ainda vai ter que trabalhar muito para se livrar do estigma de atriz de filmes adolescentes. Beleza, afinal, não é tudo, e infelizmente ainda é seu único ponto forte. Mas como dito, o restante do elenco é muito bom. Norton, como não poderia ser diferente, sobressai-se, até pelo fato de seu papel ser razoavelmente complexo – ódio, amargura, amor, mistério, são esses alguns ingredientes que ele apresenta muito bem.

Agora, não há como negar que, sem a excepcional fotografia (indicada ao Oscar – a única indicação do filme, enquanto O Grande Truque teve duas), O Ilusionista perderia praticamente todo o seu charme. A utilização de muitas sombras (como no já citado teatro de Eisenheim) e luzes suaves remete a um filme antigo, das primeiras décadas do século XX. E como este é um filme de época, esta foi uma decisão feliz da produção. Há cenários em céu aberto que são simplesmente magníficos. Não é a melhor fotografia de 2006 (ano em que foi lançado), mas é um ponto fortíssimo do filme.

Como não poderia deixar de ser, há alguns pontos fracos. O principal deles é a existência de clichês muito primitivos. O vilão (príncipe Leopold), por exemplo, é caricato demais, um personagem quase que totalmente unidimensional – sua única motivação é querer o poder durante todo o filme, ainda que para isso ele cometa vários atos estúpidos. O outro ponto fraco a ser citado é técnico. Apesar da estética apurada e o cuidado com os detalhes que a produção certamente possui, o uso da computação gráfica em cenas-chave do filme incomoda. Alguns dos truques de Eisenheim somente puderam ser demonstrados desse jeito, e infelizmente isso tira um pouco do charme e da fantasia que eles objetivavam. Ainda assim, pelo menos, esses efeitos em sua maioria são discretos.

O Ilusionista é um divertidíssimo filme. Possui muitas cenas belas e as interpretações de Giamatti e Norton garantem certa integridade artística ao longa-metragem. Não é tão sofisticado nem engenhoso quanto O Grande Truque, mas é tão divertido quanto ele, e muito mais belo de se assistir (vale lembrar que O Grande Truque também é dono de uma maravilhosa fotografia). Um belo trabalho que deve receber atenção mais justa agora que está disponível nas locadoras e não precisa dividir atenções com ninguém. Mais do que recomendado!

terça-feira, 14 de agosto de 2007

Henfil


"Se não houver frutos, valeu a beleza das flores...
Se não houver flores, valeu a sombra das folhas...
Se não houver folhas, valeu a intenção da semente."

Henfil

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Aos amigos...


Existem pessoas em nossas vidas que nos deixam felizes pelo simples fato de terem cruzado o nosso caminho. Algumas percorrem ao nosso lado, vendo muitas luas passarem, mas outras apenas vemos entre um passo e outro. A todas elas chamamos de amigo. Há muitos tipos de amigos. Talvez cada folha de uma árvore caracterize um deles. O primeiro que nasce do broto é o amigo pai e o amigo mãe. Mostram o que é ter vida. Depois vem o amigo irmão, com quem dividimos o nosso espaço para que ele floresça como nós. Passamos a conhecer toda a família, a qual respeitamos e desejamos o bem. Mas o destino nos apresenta outros amigos, os quais não sabíamos que iam cruzar o nosso caminho. Muitos desses são designados amigos do peito, do coração. São sinceros, são verdadeiros. Sabem quando não estamos bem, sabem o que nos faz feliz... Às vezes, um desses amigos do peito estala o nosso coração e então é chamado de amigo namorado. Esse dá brilho aos nossos olhos, música aos nossos lábios, pulos aos nossos pés. Mas também há aqueles amigos por um tempo, talvez umas férias ou mesmo um dia ou uma hora. Esses costumam colocar muitos sorrisos na nossa face, durante o tempo que estamos por perto. Falando em perto, não podemos nos esquecer dos amigos distantes, que ficam nas pontas dos galhos, mas que quando o vento sopra, aparecem novamente entre uma folha e outra. O tempo passa, o verão se vai, o outono se aproxima, e perdemos algumas de nossas folhas. Algumas nascem num outro verão e outras permanecem por muitas estações. Mas o que nos deixa mais feliz é que as que caíram continuam por perto, continuam aumentando a nossa raiz com alegria. Lembranças de momentos maravilhosos enquanto cruzavam o nosso caminho. Simplesmente porque: Cada pessoa que passa em nossa vida é única. Sempre deixa um pouco de si e leva um pouco de nós. Há os que levaram muito, mas não há os que não deixaram nada.

quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Diferentes Seres – Artur da Távola

Diferentes Seres – Artur da Távola

Diferente não é quem o pretenda ser. Este é um imitador do que ainda não foi imitado, nunca um ser diferente. Diferente é quem foi dotado de alguns mais e de alguns menos em hora, momento e lugar errados. Para os outros. Que riem de inveja de não serem assim. E de medo de não agüentarem, caso um dia venham a ser. O diferente é um ser sempre mais próximo da perfeição. O diferente nunca é um chato. Mas é sempre confundido com ele por pessoas menos sensíveis e avisadas. Supondo encontrar um chato onde está um diferente, talentos são rechaçados; vitórias são adiadas; esperanças são mortas. Um diferente medroso, este sim acaba transformando-se num chato. Chato é um diferente que não vingou. Os diferentes muito inteligentes entendem por que os outros não os entendem. Os diferentes raivosos acabam tendo razão sozinhos, contra o mundo inteiro. Diferente que se preza entende o porque de quem o agride. O diferente começa a sofrer cedo, desde o curso primário, onde os demais de mãos dadas, e até mesmo alguns professores por omissão (principalmente os mais grossos), se unem para transformar o que é peculiaridade e potencial, em aleijão e caricatura. O diferente carrega desde cedo apelidos e carimbos nos quais acaba se transformando. Só os diferentes mais fortes do que o mundo se transformaram (e se transformam) nos seus grandes modificadores. Os diferentes aí estão: enfermos; paralíticos; machucados; gordos; magros demais; bonitos; inteligentes em excesso; bons demais para aquele cargo; excepcionais; narigudos; barrigudos; joelhudos; pé grande; feios; de roupas erradas; cheios de espinhas; de mumunha; malícia ou baba; os diferentes aí estão, doendo e doando, mas procurando ser, conseguindo ser, sendo muito mais. A alma dos diferentes é feita de uma luz além. A estrela dos diferentes tem moradas deslumbrantes que eles guardam para os poucos capazes de os sentir e entender. Nessas moradas estão os maiores tesouros da ternura humana. De que só os diferentes são capazes. Jamais mexa com o amor de um diferente. A menos que você seja suficientemente forte para suportá-lo depois.